quinta-feira, 8 de maio de 2008

Confissão


Senhores jurados, boa noite.

Lá fora faz frio, e dentro de mim também.

Passei a madrugada a analisar meus medos, e, pasmem, descobri que tenho muitos.

Por muito tempo essa minha vida solteira me satisfez: Estar aqui e viver só pra mim. Depositar as alegrias em noites regadas a risos e gargalhadas com os amigos. Viver em uma insanidade satisfatória, dormir com um, acordar com outro, olhar pra vários deles e responder sempre sorrindo que “não” quando me perguntam se sou comprometida.

Ontem, porém, choveu durante a noite. Cheguei em casa encharcada depois de um dia cansativo. Tirei os sapatos feliz, soltei a presilha dos cabelos e enrolei-me em um cobertor felpudo. Não liguei a TV, não liguei o rádio. Dediquei-me a ouvir o silencio, e só. Triste, notei que ele estava de fato lá...o silêncio.
Nem se quer o telefone deu o ar de sua graça.

Ninguém a quem avisar que já cheguei em casa. Ninguém com quem enrolar no celular no simples ato de dar tchau.
Ninguém pra quem deixar de ser a mulher moderna de terninho, e ser só aquela de pijamas e dor de cabeça pré-sono.

Sabem...Às vezes cansa não ser de alguém. É como não ser tirada para dançar em um baile ginasial. Nunca passei por isso, porque faz parte da cultura americana, mas imagino que seja assim: Permanecer sentada sem que alguém a escolha, ouvindo o DJ trocar as músicas para os outros, enquanto você apenas balança os pés, sempre no mesmo ritmo.

Mentira da minha parte se disser que não me basto. Me basto sim para minha subsistência. Respirar e andar eu faço por mim mesma. Mas qualquer brilho além disso depende de uma companhia que não acho...que não me acha.

Não queria fazer do amor uma necessidade. Seria mais poético imaginá-lo como um dom. Mas a poesia foge de mim como os demônios da cruz, e hoje eu digo acanhada que na noite anterior me bateu uma solidão inexplicável.

Atesto, portanto, minha fragilidade. Não nego minha feminilidade excessiva, se isso for privilégio somente das mulheres.

Confesso meu temor, minhas necessidades. Preciso de alguém.

Os pulmões vão bem, obrigada. Mas o coração...

Esse tem apenas bobeado sangue, quando na vida aprendemos que a ele cabem muitas outras funções.

Finalizo por aqui, e me abro as críticas, aos conselhos...e a seus nobres julgamentos.

Atenciosamente,

A Autora "

sexta-feira, 2 de maio de 2008

Pin Up

Ele a observou por mais um minuto. Era linda.

Aquele cabelo ondulado, levemente caído sobre o busto....Suas pernas bem torneadas que terminavam em um belo sapato preto, alto, envernizado.
O encanto entre a mulher e a menina, as maçãs do rosto desenhadas a mão. Uma obra prima, uma divindade.
O sorriso que rasgava o rosto de leve, salientando os lábios vermelhos, carnudos.
Estava apaixonado por ela. Era certo que estava.
Mais do que por todas as outras que amou. Ela lhe despertava um desejo incontrolável e uma alegria desesperadora.

Enquanto despejava em silencio os mais belos elogios sobre ela, aproximou o rosto para enxergá-la melhor, e certificar-se de que não era uma miragem.
Deslizou os olhos sobre cada parte deslumbrante do que estava vendo, e de repente, parou.

- “Uma pinta abaixo do nariz?”.

Confiante, lançou do bolso um lápis de ponta fina e acrescentou o detalhe. Olhou-a novamente, pensando satisfeito: - Sou mesmo um excelente desenhista de pin ups.