segunda-feira, 8 de março de 2010

Um belo dia


Amanheceu um dia bonito.
Levantou-se num salto, e prostrou-se a frente do espelho. Ajeitou os cabelos com as mãos mesmo sabendo que iria encharcá-los no banho logo a seguir.

Pura vaidade.

Lá fora continuava belo.
Entrou no banho quente que lhe avermelhou a face.

“Pelando!”

Saiu dele com pressa não por atraso, mas por ansiedade.
Ansiosa....
Estava extremamente e estranhamente ansiosa.

Não fazia tempo que sentira aquilo pela ultima vez, ela confessou a si. Mas agora lhe parecia especialmente novo.

È do tipo de coisa que o coração não acostuma e não cansa nunca de sentir.
È do tipo de coisa que aquece e arrepia simultaneamente, fazendo os pêlos da nuca se levantarem magicamente num entusiasmo juvenil e sensual.

Desceu as escadas num tropeço, e conferiu a hora: “Elegantemente atrasada”.
Correu.

Agora que estava em cima de seu horário, não queria mais perder tempo algum.

Perder?

Nenhum tempo fora perdido.
Valeu a pena cada segundo,e estava prestes a comprovar isso.

Lá fora, um dia lindo.
No local marcado ele a esperava.
Ansioso?
Talvez.
Ela, certamente.
Abraçou-o disfarçando e comentou algo sem sentido, desconversando.
Tímida. Muito tímida.

“E então?”, ele perguntou, tocando no devido assunto.
“Eu já disse....”, respondeu ela evasiva.
“Quero ouvi-la dizer pessoalmente”, insistiu ele com um sorriso instigante.
Ela parou.
Pensou.
Encarou-o.
“Aceita namorar comigo?”, perguntou sem graça.
“Aceitei faz tempo”, respondeu ele sem pensar.
Abriram o guarda chuva, como todas as outras pessoas.
Há dois dias um vento frio espalhava pela cidade uma garoa fina e gelada, daquelas que não se sabe de onde vem, e muito menos como se protege.
Ele a envolveu num beijo lento, e passou a mão no seu rosto.
O tempo continuava exatamente como amanheceu: absolutamente fechado.
Para ela, porém, fazia um lindo dia.