terça-feira, 22 de julho de 2014

Constantemente

E você a amou? - ela perguntou apagando o cigarro numa lata vazia de Coca Cola.
Por um momento sim. - ele respondeu secamente.
Mais do que a mim?
Nem mais nem menos. Amei diferente.

Ela se ajeitou na cama. Estava de meias mas sentia muito frio.

Diferente como? - insistiu.
Amei sem medo.

Você tem medo de mim?
Tenho medo de te perder. Quanto a ela...nunca tive receio algum.

Ele tomou um gole do café preto já gelado que esquecera ao alcance das mãos.

Você me traiu...- ela disse, ameaçando um choro.
Traí a nós dois... - ele retrucou evasivo.

Não posso suportar isso.

Eu sei que não.

Você me jurou amor eterno...

Ele a encarou por um momento numa tentativa frustrada de memorizar sua feição. O nariz fino tão cheio de rinite que não o deixou dormir por noites. Os olhos separados numa harmonia particular que gerava estranheza e charme. E a boca bem desenhada que ele tentou inúmeras vezes reproduzir num papel.

Eu te amo eternamente... - respondeu

mas não te amo constantemente.

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